Na semana passada escrevi neste espaço uma série de três artigos destrinchando o espírito das três ferrovias projetadas para Mato Grosso nos próximos anos. Geraram boas discussões e, obviamente, o contraponto de setores esquerdistas. Não quero discutir política. A realidade se sobrepõe sempre sobre as inconsistências.
Na última sexta-feira encontrei-me com o amigo Luiz Antonio Pagot no aeroporto de Cuiabá. Profundo conhecedor do tema de logística. Por conta daqueles artigos pudemos conversar longamente a respeito do presente e do futuro. Neste artigo vou tentar uma breve panorâmica desses anos até 2030.
Uma ferrovia gera um enorme movimento de cargas, de serviços e de negócios, sem contar os empregos. Uma composição ferroviária com 50 vagões de 60 toneladas cada transporta 3 mil toneladas, ou o equivalente a 100 caminhões com 30 toneladas cada. O terminal ferroviário de Rondonópolis, por exemplo, ocupa uma área de 200 hectares e vai muito além dos serviços rodoviários. O sistema ideal, na visão técnica, é que caminhões são sustentáveis operando num raio de 300 km alimentando as ferrovias.
A capacidade de modificar as cidades por onde passa é muito grande, porque gera negócios que se desdobram, com muitos empregos e crescimento econômico.
O ambiente econômico de Mato Grosso nos próximos dez anos é muito animador e sugere a necessidade inevitável de ferrovias e a integração de modas de logística. Alguns números a seguir, segundo dados do IMEA:
1 – SOJA – produção em 2010= 20 milhões/ton. Em 2020= 35,4 milhões/ton. Previsão para 2030: 58,5 milhões/ton.
2 – MILHO – produção em 2010= 2 milhões/ton. Em 2020= 35,5 milhões/ton. Previsão para 2030= 67,1 milhões/ton.
3 – CARNE BOVINA – produção em 2020= 1,52 milhão/ton. Em 2030= 2,13 milhões/ton.
Num ambiente como esse surge o preço dos fretes como um grande inimigo da renda do produtor e da economia estadual. Alguns dados também do IMEA sobre o preço do frete rodoviário.
1 – De Sorriso a Rondonópolis = U$ 29,44. Até o porto de Santos= U$ 33,59 até a China= U$ 78,46.
2 – De Córdoba (Argentina) até a China = U$ 45,66
3 – De Mississipi (EUA) até a China = U$ 51,88.
Outro dado relevante sobre modais:
1 – RODOVIÁRIO – Brasil= 61,15. EUA= 10%
2 – FERROVIÁRIO – Brasil= 21,5. EUA= 45%
3 – HIDROVIÁRIO – Brasil= 13,6%. EUA= 45%.
Um nível de produção como o estimado para 2030 vai requerer profunda revisão do sistemas de logística de toda a região do Centro-Oeste e parte do Nordeste que se conecta regionalmente. Para esses cenários é de se esperar que o Estado brasileiro e os estados regionais se articulem e pensem estrategicamente. Queiramos ou não o Estado é fundamental para, no mínimo, planejar o destino regional e nacional. Muito embora, sempre atrasados
Onofre Ribeiro
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