Muitos estão chamando de desordem institucional, outros de rupturas entre os poderes da República, assim por diante. A verdade é que a Constituição de 1988 já dá sinais de forte cansaço. Foi produzida num clima de revanche dos congressistas civis da época contra os militares que acabavam de deixar o poder em 1985.
Escrita com forte viés da esquerda da época, a Constituição copiava normas socialistas da antiga constituição soviética. No exato momento em que um ano depois a União Soviética se dissolvia. A Constituição deu poderes efetivos ao Legislativo e ao Supremo Tribunal Federal e deixou os presidentes da República à míngua. Uma única janela lhes dá poder: editar medidas provisórias pras situações de emergência, mesmo assim sujeitas ao exame do Legislativo em 30 dias, sob pena de perder a validade.
Dentro desse ambiente socialista da Constituição, poderes paralelos instalaram-se dentro da organização do Estado brasileiro e assaltaram a República. O Congresso Nacional, O Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público, as empresas estatais, o corporativismo do funcionalismo público, as universidades públicas, os sindicatos instalados na estrutura estatal. Isso gerou ambiente de corrupção e do corporativismo protegido.
À sombra desse ambiente estatal agregaram-se os bancos, os setores industriais mais influentes, as confederações representativas da economia, as empreiteiras, os laboratórios farmacêuticos, as telefônicas, a mídia, setores do esporte e da arte, entre tantos outros. Criou-se então dois brasis. Um público, e outro privado. Ambos usando o Estado pra defender os seus interesses. E um terceiro setor, vítima desse conjunto corporativo: a população cada vez mais pagadora de impostos pra custear uma máquina cada vez mais cara. Tem que sustentar o Brasil de dentro e o Brasil de fora. Trabalha cinco meses por ano pagando esses impostos.
Na segunda metade da década passada, a economia se desdobrou num novo setor de crescente poder econômico e pouca representação política: o agropecuário, hoje conhecido como setor do agro. Representará 30% do PIB brasileiro em 2021. A indústria, que já representou 37% hoje se resume a 6,9%. É natural que o agro com esse peso econômico passe a defender os seus interesses como no passado a indústria, os bancos, etc, defenderam os seus.
Queira ou não o mundo urbano, a nova ordem política brasileira virá do campo! Ela está puxando a indústria, o comércio e os serviços.
No próximo dia 7 de setembro haverá um ambiente de manifestações em Brasília e no interior. Pode se considerar que será a voz do campo dizendo à voz da cidade quem agora governa a vontade da política brasileira. São novas formas de ação. O agro é disciplinado como lhe impõe as datas e as normas da natureza: clima, tempo e datas inadiáveis pra plantar, colher e vender.
A ser completamente verdadeira essa tese, espera-se que o movimento seja ordeiro e não acabe de um dia pro outro enquanto não se completar o ciclo dos objetivos desenhados pelos idealizadores. Curioso, será ver como o Estado corporativo vai lidar com a objetividade pragmática de um poder político novo e desconhecido. E pra encerrar: os analistas políticos com suas teses urbanas precisarão voltar rapidamente pras suas universidades e entenderem esse Brasil que não pensa em Brasília e nem nos bares litorâneos dos centros urbanos do Sudeste.
Onofre Ribeiro
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